Olympio Mourão Filho Segunda parte do trabalho de pesquisa sobre as memórias de...
Segunda parte do trabalho de pesquisa sobre as memórias de um dos mais importantes partícipes do Golpe Civil-Militar de 1964, Olympio Mourão Filho.A primeira parte, já publicada, você acompanha aqui
Não podemos conceber as lutas políticas deste século sem levarmos em conta a conjuntura mundial, polarizada entre duas perspectivas antagônicas que se refletiam dentro do país: o liberalismo de viés norte-americano e o comunismo, especialmente o soviético. Estas duas correntes se infiltraram no Brasil desde muito cedo e influenciaram desde as classes médias urbanas até as Forças Armadas, exacerbando os conflitos políticos e sociais, dando pretextos inclusive para golpes preventivos, como o que foi praticado por Getúlio Vargas em 1937[1].
Era esse o clima político quando da renúncia de Jânio Quadros. A Constituição de 1946 que ainda vigorava, no seu Artigo 79, determinava que, na vacância do cargo, a posse do mandato caberia ao seu vice-presidente eleito[2]. Na eleição de 1960 podia-se eleger o presidente de uma chapa e o vice-presidente de outra. Jânio Quadros foi eleito presidente, mas o vice de sua chapa, Milton Campos, foi derrotado por João Goulart, que concorria pela chapa de oposição. Goulart nunca contou com a simpatia do Exército desde a época em que fora nomeado Ministro do Trabalho por Getúlio Vargas em junho de 1953. Segundo Jayme Portella[3], “as agitações trabalhistas incentivadas pelo Sr. João Goulart com a utilização dos chamados ‘pelegos’ e acrescidas das atividades comunistas (...) redobraram as preocupações nas Forças Armadas”.
Os militares, portanto, já de longa data não toleravam a figura política de João Goulart. Acusavam-no de agitar os sindicatos que eram ligados ao governo de Getúlio Vargas e conseguiram tirá-lo do ministério depois de muitas pressões. Agora, em 1961, ele estava prestes a se tornar presidente da República. Este fator fez com que, no começo da crise, ocorresse uma polarização entre aqueles que apoiavam a posse de Goulart — os legalistas — e os que trabalhavam para impedir que ele chegasse ao governo — especialmente os três ministros militares: o vice-almirante Sylvio Heck, Ministro da Marinha; Marechal Odylio Denys, Ministro da Guerra; e o brigadeiro-do-ar Gabriel Grüm Moss, Ministro da Aeronáutica.
O Estado Novo de Getúlio tinha um toque fascista |
Ministro da Guerra, Odylio Denys queria impedir posse de Goulart |
Entretanto, não é correto afirmar que todos os militares estavam empenhados para impedir a posse do vice-presidente eleito. Alguns deles estavam francamente empenhados na campanha pela legalidade, a favor da Constituição e, portanto, inclinados a respeitar a vontade dos eleitores, que democraticamente haviam elegido João Goulart para o cargo de vice-presidente. Dentre estes militares legalistas, surge a figura controversa de um dos mais importantes personagens de todo este período: o General Olympio Mourão Filho.
continua...