Frederico Figner e a lendária “Casa Edison”, no Rio de Janeiro Hoje o costume brasileiro de ouvir sambas gravados é muito comum, mas...
Frederico Figner e a lendária “Casa Edison”, no Rio de Janeiro
Hoje o costume brasileiro de ouvir sambas gravados é muito comum, mas pouca gente sabe a história por trás desse gênero que é a marca do Brasil. O samba, antes da era das gravações, era geralmente a denominação de um grupo de pessoas que se reunia numa roda para cantar e se divertir. Ainda não tinha letras, apenas um refrão fácil que pudesse ser repetido, onde se acrescentava um verso improvisado.
A coisa começou a mudar com a chegada ao Brasil de um imigrante tcheco chamado Frederico Figner, em 1891. Ele desembarcou no Belém do Pará trazendo na bagagem um fonógrafo e alguns quilos de cera – a matéria-prima para gravar vozes. Figner passou a gravar algumas frases e cobrava das pessoas para ouvi-las – acreditem, naquela época, ouvir uma voz gravada num pedaço de cera causava enorme admiração na população, a ponto de 4 mil pessoas terem pagado pra entrar na tenda onde o tcheco apresentava o estranho aparelho que podia “falar”.
Os pioneiros da gravação musical
Figner veio para o Rio de Janeiro em 1892, mas percebeu que o aparelho já não causava tanta curiosidade. No entanto, teve a perspicácia de notar que as pessoas pagariam se pudessem ter um aparelho para ouvir músicas nas próprias casas quando quisessem. Foi então que ele mudou de negócio e passou a importar vitrolas e discos.
Para vender mais, Figner contratou alguns artistas cariocas conhecidos para gravarem discos. Foi assim que o flautista Patápio Silva (imagem à direita), o maestro Anacleto de Medeiros e os cantores Cadete e Baiano se tornaram alguns dos primeiros músicos de gravação profissional do planeta.
As músicas que eles produziam eram uma adaptação daquilo que se cantava nas ruas do Rio de janeiro, e quase nunca de tradição clássica. Com isso, eles estavam sendo os pioneiros – em todo o mundo, e não apenas no Brasil – na criação da música popular.
A música gravada começou a receber letras, contando uma história com começo, meio e fim. Dez anos depois, as pessoas já começavam a se acostumar com o estranho hábito, hoje tão banal, de ouvir sons que saíam de uma máquina.
O primeiro samba
O passo seguinte foi dado por um gênio chamado Donga (Ernesto Joaquim Maria dos Santos, imagem à esquerda). Em 1916, ele percebeu que a música gravada se tornara o nicho principal de toda a produção musical. Pensando nisso, ele compôs Pelo Telefone, montada com pedaços de várias outras músicas que estavam fazendo sucesso na cidade. Mas o mais importante, foi como ele resolveu batizar esse trabalho que se tornou o primeiro de um novo gênero musical. Assim surgia o samba.
Apesar de tanto a palavra quanto a música já existirem, ele queria levar a música para além desse grupo restrito, tornando-a popular. E achava que, gravada, esse estilo merecia um nome próprio.
O pioneirismo desses artistas brasileiros – o samba foi criado dez anos antes da invenção do jazz – ajudou a fomentar o gênero que mais tarde se tornaria um dos símbolos do Brasil. Tudo isso trabalhando para um tcheco que mal falava português, num estúdio de fundo de quintal onde mal cabia uma banda inteira, gravando em cilindros de cera, com todas as dificuldades da época.
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Fonte: Jorge Caldeira, jornalista e historiador para a revista História Viva nº1, pp. 66-71.