O que a cidade de Nova York, centro financeiro da América e considerada a capital do mundo Ocidental, poderia ter em comum com um bairro...
O que a cidade de Nova York, centro financeiro da América e considerada a capital do mundo Ocidental, poderia ter em comum com um bairro pobre localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro? A resposta é a Estátua da Liberdade, cuja réplica em menor escala, praticamente desconhecida dos cariocas, enfeita o bairro da Vila Kennedy.
A famosa Estátua da Liberdade norte-americana é o símbolo da independência dos Estados Unidos, que é comemorada hoje, dia 4 de julho. Franceses e ingleses desde muito tempo não se bicavam, e quando os Estados Unidos completaram 100 anos de independência da metrópole inglesa, em 1876, os franceses, de modo provocativo, deram de presente aos americanos a estátua.
O curioso é que foram criadas duas réplicas idênticas desta estátua em tamanho menor pelo mesmo escultor, o francês Frédéric Auguste Bartholdi. Uma delas está em Paris e a outra veio parar — para o desespero daqueles que desejariam que ela estivesse na Barra da Tijuca ou no Leblon — numa comunidade pobre da Zona Oeste do Rio de Janeiro: a Vila Kennedy.
A história começa quando a antiga Favela do Esqueleto, localizada no bairro do Maracanã, teve que ser removida para dar lugar à construção da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Com a verba americana da “Aliança para o Progresso” (Leia-se: “suborno para que os países da América Latina não flertassem com os ideários comunistas”) foram construídas as casas populares na região de Bangu no começo dos anos 60, que ganhou o nome Vila Kennedy em homenagem ao presidente americano morto em 1963. A estátua da Zona Oeste do Rio foi entregue ao comendador Paranhos, que a deixou na residência da família, na Urca, Zona Sul do Rio, até se desfazer da propriedade, quando a escultura foi deixada para o governo da Guanabara. A estátua foi então colocada na Vila Kennedy (imagem ao lado) pelo governador Carlos Lacerda, um dos mais notórios admiradores dos Estados Unidos e historicamente aliado aos interesses políticos e econômicos dos americanos no Brasil. Lacerda, ironicamente (ou não) achou por bem que o local ideal para a chamada “Mãe dos Exilados” fosse entre os moradores banidos de suas antigas casas do Maracanã.
Perdida atualmente no meio da guerra entre traficantes rivais da Vila Kennedy e da vizinha Vila Aliança, sem poder escapar das balas perdidas, o monumento de 2,3 metros de altura e de valor histórico inestimável completou 47 anos em março, e hoje será restaurado pela Secretaria Municipal de Conservação, com o apoio do consulado norte-americano e da Câmara de Comércio Brasil - Estados Unidos.