Os Estados Unidos formam um dos países mais avançados cientificamente do planeta, onde centros de pesquisa, todos os dias, fazem novas de...
Os Estados Unidos formam um dos países mais avançados cientificamente do planeta, onde centros de pesquisa, todos os dias, fazem novas descobertas. Paradoxalmente, também é lar de uma religião cristã cada vez mais fundamentalista, que propõe as ideias das mais irracionais que se pode imaginar. Uma delas é defendida pelo grupo Answers in Genesis (Respostas na Gênese): homens e dinossauros teriam vivido juntos num passado não muito remoto. Só que uma de suas “provas”, um petroglifo feito por índios séculos atrás, que parecia representar um dinossauro, acaba de ser derrubada.
Mais de 60 por cento das pessoas não aceitam as ideias de Darwin sobre o evolucionismo nos Estados Unidos. Lá o fundamentalismo cristão é apoiado pelo governo, que não raramente evoca a deus para justificar suas guerras pelo mundo. O grupo religioso Answers in Genesis é conhecido por propor uma interpretação literal da Bíblia e afirmar que homens e dinossauros caminharam juntos num período que não poderia ser mais antigo do que de 6 mil anos, o tempo que o mundo existe, de acordo com a Bíblia. Eles são responsáveis pela administração do “Museu da Criação”, em Petersburg, Kentucky, um projeto de mais de US$ 27 milhões, onde dinossauros e homens são apresentados no mesmo ambiente.
Museu da Criação nos EUA: dinossauros e homens juntos
Uma das “provas” desta ideia insana era o petroglifo feito por indígenas séculos atrás, numa antiga caverna no alto de uma formação rochosa no sudeste de Utah, que representaria um suposto dinossauro herbívoro do tipo Diplodocus. O petroglifo tinha sido adotado por grupos criacionistas como prova de que humanos coexistiram com os dinossauros. A imagem pode ser encontrada em vários sites criacionistas e faz parte de uma exposição do Museu da Criação.
Mas esta “prova” acaba de ser refutada pela pesquisa de Phil Senter, professor de biologia na Universidade Estadual de Fayetteville e do arqueólogo Sally J. Cole, que publicaram seu trabalho na Palaeontologia Electronica, um jornal peer-reviewed online. Cole examinou o desenho na rocha e declarou que era na verdade um composto de duas gravuras em separado, sendo uma delas uma cobra ou serpente. As “pernas” do dinossauro eram na verdade mineral natural ou manchas de lama.
À esquerda, o suposto dinossauro. À direita, o desenho decomposto em partes
O “desenho do dinossauro” é então uma forma de "pareidolia”, ou seja, fenômeno psicológico de percepção de significado no estímulo vago ou aleatório, como por exemplo, ver animais nas nuvens ou o rosto de uma figura religiosa em um item alimentar.
Por que os religiosos americanos acreditam que dinossauros e homens viveram na mesma época, quando se sabe que estão separados no tempo por um período de 60 milhões de anos? É muito simples. Por interpretarem a Bíblia de forma literal, têm de arrumar um jeito de conciliar as descobertas de fósseis de dinossauros com mais de 70 milhões de anos, com suas crenças de que o mundo e o homem não têm mais do que 6 mil anos, num complexo malabarismo teológico. Seus frágeis argumentos dão conta de que “os fósseis não vêm com etiquetas de datação” (ignorando o método Carbono-14); afirmam que dinossauros são relatados na Bíblia, que seriam os monstros marinhos e seres como “Leviatã” aludidos em Jó 40 e 41; e que culturas do passado temiam dragões, que seriam uma espécie de dinossauro, e que estas culturas tão distantes de si quanto a europeia e a chinesa não poderiam estar erradas. Não há limites para a imaginação dos criacionistas quando se trata de defender as suas ideias. Para os crentes americanos, pouco importa; continuarão acreditando firmemente que homens e dinossauros viveram lado a lado alguns milênios atrás.
Fontes:
http://news.discovery.com/dinosaurs/creationism-dinosaur-drawing-cave-110325.html#mkcpgn=rssnws1
http://carm.org/did-men-and-dinosaurs-live-together
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDR77424-8489,00.html