A partir do século XV o Ocidente passou a encarar o mundo e a sociedade de formas bem diferentes do que até então vinha prevalecendo. A Re...
A partir do século XV o Ocidente passou a encarar o mundo e a sociedade de formas bem diferentes do que até então vinha prevalecendo. A Revolução Científica, fruto do Renascimento na Europa, deu o impulso necessário a este movimento em diversas áreas do conhecimento. Dando sequência à série A Revolução Científica e as quatro ondas contra a religião, cuja primeira parte sobre a História pode ser lida aqui, publicamos agora a segunda onda que ajudou a combater o predomínio da superstição religiosa na explicação dos fenômenos naturais: a Astronomia. Vamos conhecer agora alguns dos responsáveis por essa mudança de paradigma.
"Deus colocou a Terra em suas fundações, para que nunca se mova"
Salmo 104:5 do Antigo Testamento
Antes de dar prosseguimento, eu acho que é interessante estabelecer uma definição mais precisa do que temos tratado até aqui por “religião”. Quando dizemos “religião”, estamos nos referindo especialmente às religiões cristãs. Primeiro, ao catolicismo, porque estamos tratando da Revolução Científica no Ocidente, região onde a Igreja Católica teve predomínio desde muito tempo; e depois, ao protestantismo, que a partir do século XVI veio dividir com ela o monopólio da religião, apesar desta crença ter uma certa tradição progressista. Dito isto, podemos seguir adiante. Durante muito tempo, a religião teve o monopólio do saber. Toda e qualquer explicação sobre qualquer coisa que não tivesse o seu aval era condenada como herética, passível das maiores punições. A falta de tecnologia e a larga escala do analfabetismo durante o período em que ela esteve no auge contribuíram para este controle. O que ela dizia, estava dito. Assim também era para a explicação dos fenômenos astronômicos.
Com base no Almagesto, tratado de Astronomia produzido por Claudio Ptolomeu no século II que defendia o geocentrismo, a Igreja Católica tomou pra si a ideia de que o planeta Terra era o centro do Universo, e todos os outros astros giravam ao seu redor. Isto lhe convinha bastante, pois grandes povos e culturas que ela submeteu tinham o Sol como divindade suprema. Nada melhor que tirá-lo de protagonismo. Quaisquer outras ideias diferentes eram devidamente rechaçadas com base na Bíblia. Foi preciso esperar 14 séculos até que alguém tivesse coragem e meios suficientes para derrubar esta ideia.
Nicolau Copérnico foi um dos primeiros a confrontar o geocentrismo da Igreja. Nascido em Torum, na Polônia, em 1473, publicou o primeiro tratado de Astronomia heliocêntrica, De Revolutionibus Orbium Coelestium Libri VI ou “Das Revoluções dos Mundos Celestes” lançado no ano de sua morte, em 1543. Basicamente, defendia que o mundo é esférico e finito; o movimento dos planetas é circular e uniforme; estes planetas tem dois movimentos: o de rotação em torno de seus próprios eixos e o de translação em volta do Sol. Derrubava assim a tese de que os astros e planetas é que giravam em torno da Terra.
Mais tarde, Johannes Kepler (imagem à esquerda) iria aperfeiçoar as teses de Copérnico. Nascido em 1571, no sul da atual Alemanha, ele publicou no início de 1597 seu primeiro livro, chamado (respirem fundo) Prodromus disserationum cosmographicarum continens mysterium cosmographicum de admirabili proportione orbium celestium deque causis coelorum numeri, magnitudinis, motuumque periodicorum genuinis et propiis, demonstratum per quinque regularia corpora geometrica, que ficou mais conhecido (felizmente) como Mysterium Cosmographicum (Mistérios do Universo). Nesta obra ele defende o heliocentrismo, corrigindo e aprimorando alguns aspectos do trabalho de Copérnico: observando o movimento de Marte, ele chegou à conclusão de que a translação não era um círculo perfeito e sim uma elipse. Entre 1617 e 1621 Kepler publicou os 7 volumes do Epitome Astronomiae Copernicanae (Compendium da Astronomia Copernicana), que se tornou a introdução mais importante à astronomia heliocêntrica.
O fato curioso, é que durante muito tempo as obras sobre heliocentrismo foram toleradas pela Igreja, apesar de ir de encontro às suas determinações. Talvez a Igreja ainda se sentisse poderosa e segura de sua força, para se preocupar com os novos estudos astronômicos. No entanto, a partir dos trabalhos de Galileu Galilei, especialmente o Siderius Nuncius (Mensagem Celeste) publicado em 1610, que teve grande repercussão, a Igreja se sentiu ameaçada. Trabalhos sobre o tema foram então colocados no Index de livros proibidos, incluindo as antes toleradas obras de Copérnico e Kepler. Mas a teoria geocêntrica da Igreja estava, de fato, condenada, ficando cada vez mais desacreditada. Coube a Isaac Newton, um pouco mais tarde, desfechar o golpe de misericórdia, com suas teorias sobre a grande lei de gravitação dos corpos, explicando assim o equilíbrio dos corpos celestes. A religião perdia assim mais uma batalha contra a ciência.
[continua…]
Fontes:
http://www.fortunecity.com/tatooine/servalan/272/kepler.htm
http://www.museutec.org.br/previewmuseologico/nicolau_copernico.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cosmologia#Nicolau_Cop.C3.A9rnico
http://www.ihu.unisinos.br/uploads/publicacoes/edicoes/1158329606.26pdf.pdf
http://profs.ccems.pt/PauloPortugal/CFQ/Geocentrismo_Heliocentrismo/Geocentrismo_Heliocentrismo.html