Se existe um lugar no mundo em que as fortes tradições do passado estão em grande conflito com a modernidade do futuro, este lugar é a Índia...
Se existe um lugar no mundo em que as fortes tradições do passado estão em grande conflito com a modernidade do futuro, este lugar é a Índia. Membro do BRICS, grupo de países emergentes com maior expectativa de crescimento para os próximos anos, junto com Brasil, Rússia, China e África do Sul, o país trabalha para oferecer educação, moradia e emprego a seus cidadãos, cada vez mais urbanizados, num esforço governamental para mudar a realidade de milhões de pobres.
Mas esses benefícios da modernidade ainda precisam vencer as barreiras de um dos países mais desiguais, machistas e supersticiosos do planeta, onde milhões de hindus tentam manter vivas as “tradições” do passado.
O desrespeito com as mulheres é uma delas. Acompanhamos recentemente o caso brutal de estupro sofrido por uma indiana num ônibus (hoje, depois de duas semanas, outro estupro similar aconteceu), e o pior disso foi o descaso total das autoridades de Nova Déli, conhecida pelo vergonhoso título de “capital mundial do estupro”, onde, segundo as estatísticas, duas mulheres são estupradas por dia (somente os casos registrados nesta cidade). Tal conduta bárbara coloca a Índia ainda no obscuro atraso social e não como uma das nações mais promissoras do futuro.
Outra tradição estranha da Índia é a persistente superstição do seu povo, que ainda leva muito a sério mitos, poções mágicas, truques de levitação, deuses e rituais exóticos, enquanto que no resto do mundo – talvez com a exceção dos países árabes – a tendência é o abandono cada vez maior de tais práticas e crenças.
Um destes rituais estranhos começa a ser comemorado no dia de hoje, o Kumbh Mela, onde milhares de hindus são liderados por religiosos seminus com o corpo coberto de cinzas para um banho coletivo “purificador” (?) no poluído rio Ganges. Considerado o maior festival (?) religioso do mundo, é realizado a cada 12 anos com duração de 55 dias e poderá esse ano quebrar o recorde de participação de 2001, que contou com 100 milhões de hindus. Esse evento tem as suas raízes na mitologia segundo a qual “algumas gotas do néctar da imortalidade caíram sobre as quatro cidades que acolhem o festival: Allahabad, Nasik, Ujjain e Haridwar”.
São contra estas práticas que a Índia moderna vem se confrontando nos últimos anos. Os milhares de manifestantes que foram às ruas contra o estupro da jovem estudante no ônibus, parando o país, já mostraram que os indianos educados e urbananizados já não toleram mais certas “tradições” absurdas. Por mais ingênuo que possa ser, por sua vez, o banho “purificador” coletivo deveria ser condenado pelo menos como um atentado contra a saúde pública.
O conflito definitivo entre o passado e o futuro naquele país está previsto para acontecer quando alguém tiver a ideia de cometer o crime de fazer um churrasco*. Aí vai ser o fim do mundo...
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fonte: http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=2991961&seccao=%C1sia&page=-1
* lembrando que, para os hindus, os bovinos são animais sagrados.