Há vinte anos, em 1991, com festa de setores capitalistas internacionais, chegava ao fim o regime soviético. Com o colapso da economia pla...
Há vinte anos, em 1991, com festa de setores capitalistas internacionais, chegava ao fim o regime soviético. Com o colapso da economia planificada e com as reformas liberalizantes da economia e da política efetuadas por Mikhail Gorbachev, desmantelou-se o regime comunista em nome do capitalismo de mercado. Como estará hoje, a Rússia, 20 anos depois da implementação deste sistema?
Infelizmente, a antiga União Soviética padece dos graves e previsíveis problemas do sistema capitalista que conhecemos, mas de forma amplificada. A transição da economia planificada e do regime comunista para a economia de mercado e o sistema democrático-burguês trouxe pobreza extrema de um lado, e uma pequena oligarquia que detém o monopólio das riquezas naturais do país — conhecidos como “novos boiardos*”.
Com o fracasso do seu plano e com ameaça de golpe, Gorbachev foi obrigado a renunciar, e em seu lugar entrou Boris Yeltsin, que se tornou o primeiro presidente eleito pelo voto direto na Rússia. A partir daí, estava aberto o caminho para o capitalismo e a democracia burguesa na Rússia.
Apesar de vultosas somas de dinheiro efetuadas pelos países capitalistas, que visavam ajudar na transição, a Rússia se tornou um país típico de Terceiro Mundo, com uma oligarquia que controla todo o país e uma massa de miseráveis nas ruas. Por não ter uma burguesia forte, nem um empresariado capaz de assumir o controle da transição econômica, a Rússia assistiu as empresas estatais caírem nas mãos dos antigos gerentes e presidentes dessas empresas, que se aproveitaram da crise e do vazio jurídico para se tornarem donos privados de patrimônios públicos. É o caso dos multibilionários Boris Berozovski (Logovaz: automóveis, televisão e óleo); Mikhail Friedman (Alfa Group; óleo, chá, açúcar e cimento); Mikhail Khodorkovski (Ros-Prom: banco e óleo); Vladimir Gisinsky (Media-Most Group: televisão, jornais e bancos) entre outros. Enquanto isso os negócios de médio porte, muitos deles criminosos, como o tráfico de drogas e mulheres, são controlados por máfias que burlam o regime de mercado.
Estátua de Stalin, ex-dirigente da URSS, |
O resultado disso, é que as desigualdades sociais, tão típicas do capitalismo, se tornaram gritantes na Rússia. O jornal A Verdade aproveitou a realização de um seminário internacional no Equador, em julho deste ano, para entrevistar Zinaia Smírnova, dirigente do Partido Comunista da Rússia. Segundo ele,
Em 20 anos, não houve a construção de um metrô sequer, nem de uma fábrica; foi construído um único avião e 80% dos russos são considerados em baixas condições de saúde e expectativa de vida; (...) 75% da população não tem condições de se alimentar bem e 20% da população entre 7 e 20 anos não sabe sequer assinar o nome. Por outro lado, as 20 pessoas mais ricas da Europa são russas. Desde 1992 se morre mais do que se nasce na Rússia. São registradas 50 mil mortes no país ao ano. A expectativa de vida caiu de 75 anos para mulheres e 73 para homens, em 1991, para atuais 56 e 42, respectivamente. Para termos ideia do que isso significa, a guerra no Afeganistão assassinou 13 mil pessoas durante 10 anos. Hoje é mais seguro viver no Afeganistão do que na Rússia. Existem 14 milhões de policiais de todos os tipos na Rússia, mas estamos em primeiro lugar no mundo em tráfico de drogas e de órgãos humanos.
O desmantelamento do sistema comunista na Rússia, tão festejado por políticos e intelectuais naquele começo de anos 90, que chegaram a decretar o fim da história e a morte das ideologias — como se esta própria sentença não fizesse parte de uma ideologia — deu a falsa impressão de que o capitalismo vencera e que seria a solução de todos os problemas da humanidade. Não poderiam estar mais enganados. Mais do que nunca, o mundo discute uma solução e uma alternativa a este regime desumano, que em sucessivas crises, joga milhões de pessoas na miséria. Karl Marx continua atual para confrontar o capitalismo e apresentar propostas alternativas ao destrutivo sistema que vigora atualmente. Pois enquanto o capitalismo continuar a nos levar para o buraco, o marxismo estará presente para ser a alternativa viável para um mundo mais humano e equilibrado.
* Os boiardos eram os antigos membros de uma oligarquia de nobres que governava a Rússia no século 16 e que foram exterminados pelo czar Ivan o Terrível na luta pelo poder.