Chegamos agora na última parte da série A Revolução Científica e as quatro ondas contra a religião, que vem mostrando como o desenvolvime...
Chegamos agora na última parte da série A Revolução Científica e as quatro ondas contra a religião, que vem mostrando como o desenvolvimento gradual do conhecimento científico, a partir do Renascimento, ajudou a combater a superstição das explicações religiosas para os fenômenos do mundo. Até aqui mostramos como os pensadores Baruch Spinoza, Nicolau Copérnico e Charles Darwin abalaram as estruturas da Igreja com seus trabalhos revolucionários nas respectivas áreas de História, Astronomia e Biologia. Agora chegou a vez da Psicologia, a última onda a rebentar nos contra-fortes religiosos no final do século XIX.
A Medicina é uma prática bastante antiga entre nós. Existem muitos povos tradicionalmente reconhecidos por suas habilidades no tratamento de certos problemas físicos, inclusive com pequenas intervenções cirúrgicas – é o caso de egípcios, hebreus e árabes, por exemplo, que desde muito tempo praticam a arte de curar. Mas curiosamente, jamais existiu um interesse – ou uma maior capacidade – de se compreender o funcionamento da mais complexa região do corpo humano - o cérebro – sem associá-la a alguma força mística sobrenatural.
A respeito de problemas relacionados com o cérebro e a mente, podemos identificar algumas posturas nos povos do passado, como os romanos, por exemplo. Enquanto crianças com doenças mentais (ou físicas) eram sistematicamente rejeitadas pelos pais e pelo Estado, um certo grau de êxtase e histeria era admitido, desde que fosse relacionado com as performances rituais que homenageavam deuses pagãos, como Bacus, por exemplo.
Com o advento do Cristianismo, a Idade Média vê uma importante mudança nestes paradigmas. Já não era permitida qualquer manifestação pública de histeria coletiva ou transe em honra aos deuses, e as individuais eram diagnosticadas como possessões, bem como qualquer tipo de comportamento fora dos padrões. Em 1614 surge a obra eclesiástica Rituale Romanum, que contém rituais de exorcismo para afastar supostos demônios e espíritos que perturbam as pessoas. A prática de exorcismo tornou-se corriqueira e adentrou firme o século XX. Ainda hoje há padres que a defendam e a pratiquem. Mas se estas práticas medievais hoje caíram no descrédito, muito se deve a uma nova abordagem científica dos problemas comportamentais e mentais humanos que surgiu no final do século XIX: a Psicologia.
Um dos maiores expoentes desta nova disciplina, Sigmund Freud (foto à esquerda), fundou um campo clínico e de investigação teórica da Psicologia, chamada psicanálise. Médico vienense, nasceu em Freiberg, na Moravia (ou Pribor, na República Tcheca), em 6 de maio de 1856. Através do seu trabalho, problemas de comportamento que antes eram observados pela ótica espiritual da Igreja, passaram a ser tratados como sendo do âmbito do inconsciente, do mental. As novas explicações freudianas revolucionaram nosso entendimento sobre o comportamento humano. Quadros de transtornos mentais que antes eram desconhecidos pelos clérigos, e portanto, tratados como possessões demoníacas passíveis de exorcismo, agora eram diagnosticados como psicoses, alucinações, delírios, esquizofrenias, etc. A Igreja, que durante séculos exorcizou e eliminou milhares de pessoas supostamente possessas desnecessariamente, que foram usadas para alimentar o medo e a fantasia religiosa, mais uma vez foi obrigada a ceder terreno para a ciência, e hoje já não defende mais práticas de exorcismo como antes. Mas ainda não era tudo. Não bastasse esse golpe no obscurantismo religioso, em 1928 Freud ainda escreve “O Futuro de uma Ilusão”, uma obra em que combate os dogmas da religião como causadores de neurose obsessiva na humanidade. Em trecho de sua obra, ele afirma que:
[…] a criança humana não pode completar com sucesso seu desenvolvimento para o estágio civilizado sem passar por uma fase de neurose, às vezes mais distinta, outras, menos. Isso se dá porque muitas exigências instintuais que posteriormente serão inaproveitáveis não podem ser reprimidas pelo funcionamento racional do intelecto da criança, mas têm de ser domadas através de atos de repressão, por trás dos quais, via de regra, se acha o motivo da ansiedade.[…] Exatamente do mesmo modo, pode-se supor, a humanidade como um todo, em seu desenvolvimento através das eras, tombou em estados análogos às neuroses, e isso pelos mesmos motivos - principalmente porque nas épocas de sua ignorância e debilidade intelectual, as renúncias instintuais indispensáveis à existência comunal do homem só haviam sido conseguidas pela humanidade através de forças puramente emocionais. […] Assim, a religião seria a neurose obsessiva universal da humanidade; tal como a neurose obsessiva das crianças, ela surgiu do complexo de Édipo, do relacionamento com o pai. A ser correta essa conceituação, o afastamento da religião está fadado a ocorrer com a fatal inevitabilidade de um processo de crescimento, e nos encontramos exatamente nessa junção, no meio dessa fase de desenvolvimento
A religião seria, assim, uma fase análoga à infância e estaríamos no meio do processo de transição entre a fase de ingenuidade e ignorância humanas e uma fase de maior conhecimento. Desta maneira, Freud se junta a outros grandes pensadores que combateram a religião e tiraram-lhe grande parte do poder baseado no obscurantismo. A Psicologia representa, assim, a quarta e derradeira onda, que ajudou a combater a superstição absoluta da Igreja, que durante séculos a fio ditou as normas da nossa sociedade.
- A Revolução Científica e as quatro ondas contra a religião (a História)
- A Revolução Científica e as quatro ondas contra a religião (a Astronomia)
- A Revolução Científica e as quatro ondas contra a religião (a Biologia)
- A Revolução Científica e as quatro ondas contra a religião (a Psicologia)
Fontes:
http://www.psicologaonline.com.br/artigos-cientificos/psicologia-e-religiao-o-papel-da-religiao-na-vida-psiquica-dos-individuos/
http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=818
http://www.cepdepa.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=12