É de se espantar o número cada vez maior de adeptos de pseudociências e a persistência de crenças injustificadas nesse começo de Terceiro M...
É de se espantar o número cada vez maior de adeptos de pseudociências e a persistência de crenças injustificadas nesse começo de Terceiro Milênio, como por exemplo esoterismos em geral, curas milagrosas, astrologia, comunicação com os mortos... Existem muitas pessoas mal-intencionadas que desejam nos iludir para ganhar algum tipo de vantagem, e a partir de agora vamos denunciar algumas das artimanhas mais utilizadas nestas práticas, bem como na política e na mídia. É preciso estar atento e usar o discernimento crítico para não cair em golpes ou enganações.
A primeira coisa que se deve fazer é preocupar-se com seu cérebro. A segunda é abstrair-se de todo esse sistema [de doutrinamento]. Existe um momento em que isso se torna um reflexo de ler a primeira página [da Folha de São Paulo ou d’O Globo, por exemplo] em busca dos enganos e das distorções, um reflexo de recolocar tudo aquilo em uma espécie de quadro racional. Para chegar a esse ponto, é preciso ainda reconhecer que o Estado, as corporações, as mídias e assim por diante o consideram um inimigo: então você deve aprender a se defender. Se tivéssemos um verdadeiro sistema de educação, daríamos cursos de autodefesa intelectual.
Noam Chomsky, linguista e filósofo norte-americano
A linguagem como ferramenta de enganação
A linguagem constitui uma das maiores criações humanas. Através dela, podemos comunicar pensamentos, transmitir ensinamentos, dar explicações, emocionar, e muito mais. Um instrumento tão poderoso como esse também pode ser usado — e frequentemente é — como arma de persuasão, enganação e ilusão, e por isso que precisamos identificar as atitudes maliciosas para combatê-las com inteligência crítica.
Um dos mais frequentes recursos linguísticos para enganar é o eufemismo, a arte de mascarar ou minorar uma ideia desagradável ao fazer referência a ela usando palavras com conotações mais suaves e menos negativas. Leia aqui o que disse George Orwell (imagem à direita), o inventor do conceito de “novilíngua” no livro 1984 — uma linguagem estranha que permite dizer, por exemplo, que “a escravidão é a liberdade”.
A mídia é mestra neste tipo de recurso, e a guerra é um campo fértil de sua utilização. Separamos alguns exemplos destacados por Norman Baillargeon em seu livro1 que mostram como a guerra, desde o Vietnã até nossos dias, é tratada pelos políticos e pela mídia norte-americana.
O que eles dizem: | A realidade: |
Perdas colaterais | Morte de civis inocentes |
Forças de “manutenção da paz” no Caribe (R. Reagan, 1983) | Forças Armadas americanas que invadiram Granada |
Esforço de Ajuda e Missão de Compaixão (Bill Clinton) | Entrada violenta de tropas americanas na Somália |
Luta contra o terrorismo | Comissão de ações terroristas |
Receita Especial | Napalm |
Incursão | Invasão |
Outro recurso menos conhecido, mas bastante utilizado para a enganação é o disfemismo, que nada mais é do que o oposto do eufemismo. Utiliza-se expressões pesadas e tendenciosas no lugar de outras mais neutras no intuito de persuadir o interlocutor ou o telespectador. É nesse sentido que os ocupantes de terras improdutivas se tornam “invasores de terras” no Jornal Nacional; que os defensores palestinos do direito a autodeterminação são chamados de “terroristas”; e que Mônica Serra (imagem à esquerda), esposa do ex-candidato a presidente José Serra, tentou manipular a opinião dos crentes, quando acusou nas últimas eleições a candidata Dilma de ser “assassina de criancinhas”, por supostamente ser a favor do aborto, aproveitando a comoção religiosa sobre o tema. Tenho certeza que você encontra outros casos similares a estes na imprensa.
Voltaremos com esses assuntos em outros posts, para que possamos mostrar como devemos defender nosso cérebro de influências perniciosas que visam a moldar nossa opinião de acordo com interesses de outras pessoas.
1 BAILLARGEON, Normand. Pensamento Crítico. Um curso completo de autodefesa intelectual. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2007.