Não é de hoje que filósofos, cientistas e outros pesquisadores tentam encontrar um meio de juntar dois campos do conhecimento que sempre and...
Não é de hoje que filósofos, cientistas e outros pesquisadores tentam encontrar um meio de juntar dois campos do conhecimento que sempre andaram em paralelo: a ciência e a religião. Desde os primórdios da ciência, duas características sempre andaram juntas quando nos referimos a essas tentativas: primeiro, o fracasso retumbante de todas elas; e segundo a forte oposição das vertentes religiosas. Isso pelo menos até a era darwinista, no final do século XIX, quando a Igreja ainda tinha grande poder e influência.
O problema, para a Igreja, é que a teoria evolucionista baseada nas descobertas empíricas de Charles Darwin conseguiu conquistar uma gama respeitável de adeptos, até se tornar o esquema explicativo fundamental e predominante sobre a origem das espécies, e do homem em particular, ferindo os dogmas religiosos do tipo “Adão e Eva”.
Naqueles primeiros anos, com a Igreja ainda forte, a campanha de ridicularização e difamação do autor da teoria evolucionista não foram poucas, numa tentativa vil de esvaziar a credibilidade do paradigma rival. Os anos se passaram e, como sabemos, os religiosos colocaram em prática aquele velho e conhecido dilema: “se não pode vencê-los, junte-se a eles”.
Desde então, pensadores, religiosos e até alguns cientistas buscam um meio de conciliar o que antes era inconciliável: a fé com a teoria evolucionista. Até o ex-papa Bento XVI chegou a se pronunciar a esse respeito recentemente – indo na contramão dos seus antecessores. Essa busca está inserida num certo modismo que por ora se instala em alguns tipos de cientistas, apoiados em descobertas da física quântica, que, embora recentes e até certo ponto ainda preliminares, dão esperança a esses adeptos de uma forma de ciência pós-moderna – muitos deles, também religiosos – de encontrarem a chave para a união dos dois paradigmas. A Igreja, em crise de credibilidade, agradece a boa vontade. Irônico é saber que estes mesmos cientistas seriam excomungados, quiçá até queimados na santa fogueira, caso tivessem essas mesmas ideias um pouco antes da Igreja mudar de opinião…
É lamentável essa recorrente necessidade religiosa de tentar juntar fé e ciência, quando na verdade estão apenas tentando salvar a pele da primeira. Curiosamente, também aqueles novos cientistas pós-modernos trabalham para essa busca infrutífera e desnecessária, gastando enormes recursos e tempo em pesquisas que só servem para enfeitar as revistas e sites da Nova Era. A religião tenta englobar todas as teorias rivais sob o guarda-chuva da fé, desde que não possam confrontá-las, como é o caso da teoria evolucionista. Quando a religião era forte o suficiente e tinha poder nas mãos, combateram e ridicularizaram estas mesmas teorias, mas agora que está enfrentando uma crise de credibilidade, muda de postura bem convenientemente. Ciência e fé são paradigmas rivais e sempre continuarão a ser, pois têm metodologias e práticas totalmente diversas. No dia que a religião se basear em evidências, ou a ciência se basear em fé, então estarão acabadas e não cumprirão as suas vocações primordiais.