É difícil andar pelas grandes cidades e não observar uma gama enorme de pessoas com aparelhos celulares pendurados nos ouvidos. Que tipo d...
Através de um exercício mental, me imagino novamente numa época não muito distante, pré-digital. Voltei à minha infância, passeando pelo movimentado centro da cidade e o que vi foi uma multidão de pessoas andando normalmente, conversando, ou apressadas, carregando suas maletas para o trabalho. Tudo parece funcionar perfeitamente.
Abro os olhos e estou de volta ao século XXI. Agora o que vejo são pessoas sentadas na cafeteria digitando apressadamente alguma coisa no telefone, ou andando nas ruas segurando os aparelhos celulares nos ouvidos, desligadas do mundo ao redor, ou falando sozinhas nas ruas através de um microfone. É fato que a tecnologia da telefonia móvel mudou bastante a forma como nos relacionamos.
Dias atrás, indo para Campo Grande, presenciei duas cenas coincidentes: na ida sentei ao lado de uma garota no ônibus. Durante a viagem inteira ela falou e falou no celular. Saindo de uma conversa com uma pessoa, emendava outra ligação a seguir, fato que se repetiu outras três vezes. Foram 40 minutos inteiros — o tempo da viagem, fora o tempo em que ela já estava falando quando cheguei — de telefonema. Na volta, a mesma coisa: sentei ao lado de uma senhora, que passou o mesmo tempo pendurada no celular, falando banalidades como a cor das unhas e o salão de beleza marcado para o dia seguinte.
Mas da onde vem essa necessidade exagerada de mais e mais tecnologia, mais e mais conexão, mais e mais velocidade? Ou melhor, quem fabrica essa necessidade para nós? Como esses aparelhos foram parar em nossas mãos? O que faz uma pessoa acordar de madrugada, para ficar na fila esperando para comprar mais um aparelho celular, que em vez de ser “modelo-1” é “modelo-1B”, que faz as mesmas coisas, mas tem uma altura um pouco mais fina ou um aplicativo um pouco mais eficiente?
Compulsão por celulares e conexão pode ser patológica
É lógico que ninguém em sã consciência pregaria que as pessoas devam jogar fora seus celulares. Mas se as pessoas pudessem utilizar, de forma mais consciente, ferramentas do dia-a-dia que facilitam a nossa vida, sem cair nas armadilhas das milionárias propagandas que nos induzem a desejar algo que no fundo tem uma importância apenas relativa, talvez seríamos menos reféns de empresas de publicidade contratadas para moldar nossas necessidades. Essencial é respirar, comer e beber água, o resto é opcional — e descartável .