Chegamos agora na terceira e penúltima parte do nosso trabalho em quatro capítulos, que vem demonstrando como a Revolução Científica ajud...
Chegamos agora na terceira e penúltima parte do nosso trabalho em quatro capítulos, que vem demonstrando como a Revolução Científica ajudou a abalar os dogmas religiosos que até então vinham prevalecendo como incontestáveis no mundo ocidental. Já falamos como a História e a Astronomia ajudaram a trazer novas luzes sobre o conhecimento humano. Agora chegou a vez da Biologia. Vamos saber como um trabalho avassalador produzido em meados do século XIX revolucionou nosso entendimento sobre a origem do Homem. O nome do seu autor? Charles Robert Darwin.
As remotas sociedades humanas, as primeiras organizações tribais, não eram capazes de imaginar uma possível razão lógica para suas existências: por que tinham braços e pernas, por que pensavam, porque viviam e morriam. A solução prática que encontraram, foi a produção de mitos, que narravam a criação do mundo e dos homens, por seres superiores e poderosos. Muitos destes mitos sobreviveram no tempo e chegaram até nós. Uma delas, em especial, ainda hoje tem milhões de adeptos pelo mundo: o mito da criação bíblica.
De acordo com este mito, originariamente pertencente a um pequeno povo localizado na região da Palestina, chamados israelitas, mas que ganhou o mundo mais tarde, narrado em seu livro sagrado, a Torá, existe um destes seres superiores e poderosos, aclamado como “deus”, que criou o homem “à sua imagem e semelhança”, sendo este o ápice da sua criação. Diz no livro:
E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente. Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre o homem, e este adormeceu; tomou-lhe, então, uma das costelas, e fechou a carne em seu lugar; e da costela que o senhor Deus lhe tomara, formou a mulher e a trouxe ao homem.
Gênesis 2:7, 21-22
Depois que os cristãos, mais tarde, acamparam o livro sagrado israelita – chamando-o Pentateuco - em seu próprio livro sagrado, formando assim a Bíblia, este mito fez parte da fundação da civilização e da cultura ocidentais. Na base da fé, da força, da tradição ou do conformismo, todos acreditavam – ou diziam acreditar - no mito da criação do Homem, ou Criacionismo, proposto pela Igreja. Até que surgiu uma outra explicação, revolucionária, no século XIX, quando já não era perigoso divergir dos dogmas, que iria abalar o mundo religioso. Trata-se da publicação do livro A Origem das Espécies, em 1859, por Charles Robert Darwin.
Capa da edição inglesa de A Origem das Espécies
Charles Darwin era então um naturalista britânico que viajara o mundo, colhendo evidências para sua tese. Suas ideias sofreram influências de outros pensadores contemporâneos como Charles Lyell e Thomas Malthus, e assim ele pôde elaborar a proposta que ficou então conhecida como Evolucionismo. De acordo com ela, o homem deixa de ser o centro da criação divina e passa a ser produto de sucessivos estágios de aperfeiçoamento evolutivo, desde um primeiro ser vivo unicelular, até o complexo ser humano que se tornou, tendo os outros seres vivos tomado caminhos diferentes nestes estágios evolutivos. Através da Seleção Natural – outra ideia revolucionária de Darwin – os organismos vivos passam a se adaptar gradualmente ao habitat em que vivem, evoluindo de formas diferentes, e assim temos a incrível diversidade de seres vivos que temos hoje no planeta.
Num primeiro momento, coube aos religiosos combaterem fortemente as ideias de Darwin. Hoje, passados mais de 150 anos da publicação do livro, podemos identificar duas posturas diferentes: primeiro, a tentativa de conciliar as ideias darwinistas à doutrina do Criacionismo, como fez recentemente o Vaticano, alegando que “não há conflitos entre fé e Evolucionismo”; outra, é mais identificada com o protestantismo norte-americano, que interpreta a Bíblia de forma literal e ridiculariza a teoria evolucionista e seu criador, Charles Darwin.
Não pretendo aqui me aprofundar no debate acerca das ideias criacionistas e evolucionistas, que desde então tomam conta do cenário. Apenas pretendo deixar claro, que as ideias religiosas, tidas como certas e incontestáveis, como por exemplo a ideia da criação do Homem, foram profundamente abaladas pelas sucessivas evidências que a Teoria da Evolução nos trouxe sobre o surgimento do Homem. Posteriormente, estas ideias foram aperfeiçoadas e completadas por novas descobertas – tais como os fósseis de antepassados humanos, coisa que Darwin não conhecia quando escreveu sua obra – e desde então religiosos vem tentando adaptar as suas crenças (coisa que eu acho desonestidade intelectual) às novas descobertas científicas ou combatê-las fortemente. São maneiras de salvar a religião do naufrágio, causado pela quarta onda que abalou a doutrina religiosa: a Biologia evolucionista de Charles Darwin.
Fontes:
http://www.historia.uff.br/nec/sites/default/files/A_teoria_evolucionista_de_Darwin.pdf
http://www.historia.uff.br/nec/sites/default/files/A_teoria_evolucionista_de_Darwin.pdf
http://www.renascebrasil.com.br/f_criador3.htm