Ao que tudo indica, Napoleão Bonaparte, além de baixinho, era também feio e morreu envenenado pelos ingleses, e não de câncer no estômago, c...
Ao que tudo indica, Napoleão Bonaparte, além de baixinho, era também feio e morreu envenenado pelos ingleses, e não de câncer no estômago, como se supõe. E por causa desses fatos, seus restos mortais podem não ser os que hoje repousam no Museu dos Inválidos, e sim estar envolvidos numa trama ainda não resolvida.
Em 15 de outubro de 1840, na Ilha de Santa Helena, generais franceses e antigos servidores procedem a exumação do corpo do imperador Napoleão Bonaparte. O evento gera enorme expectativa, é claro. O que encontrariam ao retirar a tampa da urna funerária depois de tanto tempo? Provavelmente restos de ossos e trapos de roupas. Mas para a surpresa geral, o que surge é um corpo perfeitamente conservado, 19 anos depois da morte.
O retorno dos restos mortais à França e o começo da polêmica
Em dezembro daquele mesmo ano, o rei Luis Felipe assiste ao retorno dos restos mortais do imperador à França numa solenidade digna da importância histórica do homenageado. Em 1969, cento e vinte nove anos depois, cabe ao presidente da República Georges Pompidou a tarefa de celebrar o bicentenário de nascimento de Bonaparte. É o momento escolhido também pelo escritor Georges Rétif de la Bretonne para escandalizar a opinião pública francesa e o mundo, com a revelação, em seu livro Anglais, rendez-nous Napoléon!, de que não é o corpo do imperador que repousa no Museu dos Inválidos, como todos sempre acreditaram, e sim do seu mordomo.
Segundo o autor, os companheiros de Napoleão, não desejando que sua feiura fosse legada à posteridade, decidem, depois de informar o governo britânico, substituir a máscara mortuária do herói pela de Cipriani Franseschi, mordomo da casa de Longwood, em Santa Helena, morto em fevereiro de 1818.
O governo inglês, então, tem a ideia de levar a farsa mais longe, substituindo os restos mortais do imperador pelo do seu mordomo, com a conivência dos colaboradores franceses. Assim, o verdadeiro corpo de Napoleão hoje estaria não na França, mas em algum lugar secreto na Inglaterra. Algumas incoerências entre os dados sobre o sepultamento de 1821 e a exumação de 1840 ajudam a alimentar a desconfiança:
1821 – Sepultamento | 1840 – Exumação |
Duas sólidas peças de madeira, na cabeça e nos pés, dão suporte ao caixão, para que a umidade não chegue à urna de mogno. | Não é encontrada nenhuma peça de madeira que dê suporte ao caixão. |
Uniforme de gala. Chapéu com roseta (ornamento em forma de rosa) sobre os pés. Meia de seda, botas com esporas de prata. | Uniforme comum, chapéu sem roseta sobre as coxas, sem meias, dedos nus. Botas sem esporas. |
O corpo já está em avançado estado de decomposição, membros alongados. | O corpo parece mumificado, perfeitamente conservado. Os membros inferiores estão flexionados. |
O corpo é sepultado em três caixões: um de folha-de-flandres, um de chumbo, e um de mogno. A tábua inferior do caixão de mogno não é coberta de veludo. | Dessa vez, são quatro caixões: um de folha-de-flandres, um de mogno, um de chumbo e outro de mogno. A tábua inferior do caixão está revestida de veludo. |
O rosto e a cabeça de Napoleão estão completamente raspados, com a boca fechada e traços desfigurados. | O rosto tem barba e a cabeça possui cabelos. A boca está aberta com traços nobres, não alterados. |
Aqueles que testemunharam o sepultamento - Marchand, criado de Napoleão, o general Bertrand, o conde de Montholon e alguns oficiais ingleses -, afirmaram que o corpo do imperador exalava um odor horrível, e seu rosto já estava desfigurado, sinais que indicam um estado avançado de decomposição. Como esse processo poderia ter sido revertido espontaneamente a ponto de, quase 20 anos depois, na sua exumação, Bonaparte reaparecer quase intacto? E como se explica os detalhes diferentes entre 1821 e 1840?
Ingleses trocaram os corpos para ocultar assassinato do Imperador
Outra tese, no entanto, descarta a hipótese de putrefação do corpo de Napoleão em 1821 e relembra o dossiê que afirma que Napoleão morreu envenenado por arsênico pelos ingleses, conforme comprovam os testes realizados nos laboratórios do FBI nos cabelos de Napoleão, retirados em Santa Helena antes e depois de sua morte - fato que explicaria a necessidade das autoridades inglesas substituírem o cadáver em segredo em 1828, sumindo com a culpa do assassinato.
Todas as controvérsias sobre o sepultamento de Napoleão e sua exumação 19 anos depois deixam claro pelo menos uma coisa: entre 1821 e 1840, o caixão do imperador foi reaberto sem que o fato fosse registrado. Na falta de uma conclusão definitiva, a questão da identidade do corpo exumado em 1840 permanece em aberto, até que as autoridades inglesas confessem ou que um exame de DNA ponha fim ao mistério.
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História Viva nº1 – Dossiê Napoleão, pp. 54-59