Aparentemente a celebração da Páscoa cristã é um emaranhado de simbolismos religiosos, pagãos e comerciais misturados. E é mesmo. Desde sua...
Aparentemente a celebração da Páscoa cristã é um emaranhado de simbolismos religiosos, pagãos e comerciais misturados. E é mesmo. Desde sua origem, o cristianismo primou por absorver crenças e símbolos de outras seitas, para ajudar a assimilação dos novos preceitos cristãos. A Páscoa nada mais é do que a perfeita síntese dessa característica.
Desde tempos remotos, em regiões em torno do Mediterrâneo, era costume celebrar o fim do Inverno e a chegada da Primavera através de rituais pagãos de fertilidade durante o mês de março. O povo judeu, também famoso por roubar mitologia alheia, adaptou essa celebração ao seu calendário religioso, marcando com ele o êxodo do Egito.
Os cristãos romperam com muitas tradições judaicas, mas mantiveram a mania de roubar e adaptar símbolos e mitologias alheias: a Páscoa, a partir de agora para eles, marca a ressurreição de Cristo e deve ser comemorada no domingo seguinte à lua cheia posterior ao equinócio da Primavera, nunca antes de 22 de março ou depois de 25 de abril.
Onde entra o coelho e os ovos nessa história?
Lembra das celebrações pagãs? Muito bem, uma das divindades adoradas nessa época era Ostara, a deusa da primavera. Simbolicamente, a primavera representa para os pagãos o renascimento, o novo ciclo que se inicia na Natureza, época de celebrar a vida e a fertilidade. Em suas representações mais comuns, Ostara aparece segurando ovos ao lado de um coelho — sendo assim a junção de três símbolos de vida e fertilidade: os ovos, a mulher e o coelho. A adoção destes símbolos como elementos da ressurreição de Cristo foi aprovada no Concilio de Niceia (325 E.C.) como forma de atrair adeptos e facilitar a aceitação do cristianismo entre os pagãos. A partir de então, começaram a aparecer pinturas de Jesus Cristo, sua mãe Maria e muitos ovos juntos.
E o chocolate?
Bem, foi mais 1.000 anos depois do Concilio de Niceia que os europeus, em contato com os astecas no Novo Mundo, tiveram a oportunidade de conhecer o cacau e seus derivados, como o xocoatl, bebida que deu origem ao chocolate. Ainda tiveram que esperar mais 200 anos, até que os franceses tivessem a ideia de produzir os primeiros ovos de chocolate da história.
Os europeus levaram o cacau da América no século XVI, e no século XVIII trouxeram o simbolismo do coelho e dos ovos de Páscoa através dos imigrantes alemães. No século XX, com a industrialização em pleno vapor, a difusão comercial e publicitária desses ovos de chocolate pelo mundo fez as pessoas esquecerem um pouco o lado religioso da Páscoa. Mas como diz uma anedota recente, que culpa elas têm se preferem mais o chocolate do que a religião?