A Revolução Científica e as quatro ondas contra a religião (parte 1/4)

Durante milênios as doutrinas religiosas e suas imposições acerca de tudo o que interferia o destino de homens e mulheres, dominaram de f...

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Durante milênios as doutrinas religiosas e suas imposições acerca de tudo o que interferia o destino de homens e mulheres, dominaram de forma inconteste a vida das pessoas. As sociedades viveram durante esse tempo ligadas, ao mesmo tempo, ao mundo natural e ao sobrenatural, devendo obediência e servidão àqueles que se diziam representantes do poder sobrenatural no mundo natural. No entanto, tudo isso começou a mudar a partir do século XV, quando as ciências floresceram de modo impressionante. A Revolução Científica abalou as doutrinas religiosas, e quatro disciplinas tiveram papel fundamental para atacar a superstição e a tirania da Igreja Católica.

 

Do século XV, quando o Renascimento floresceu na Europa, até o final do século XIX e começo do XX, a Revolução Científica impôs o racionalismo na ordem do dia, acabando com o domínio de verdades baseadas no obscurantismo religioso da igreja. Muitas foram as disciplinas que atacaram de forma impiedosa as defesas da religião. Aqui, ao longo de quatro partes, eu destacarei as quatro principais ondas desse movimento e seus principais representantes, baseado numa palestra proferida alguns anos atrás pelo professor de História da Antiguidade Oriental da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Edgard Leite: a História, a Astronomia, a Biologia e a Psicologia.

 

Primeira Onda: a História:

 

Baruch de Espinosa nasceu em 1632, em Amsterdã. Seus pais, judeus portugueses, haviam fugido pouco antes da perseguição religiosa em Portugal. Nesta cidade, Espinosa entrou em contato com ideais liberais, críticas à religião e outros movimentos típicos do Renascimento. Mais tarde, em 1655, sob essa influência, desenvolveu o seu Tratado Teológico-Político. Nesta obra (lançada somente em 1670), Espinosa pretendeu refutar a interpretação bíblica baseada na Verdade Revelada a priori, como vinha prevalecendo durante séculos – pregada por católicos como Santo Agostinho - e defendeu um método de interpretação histórico-crítico baseado no racionalismo.

 

baruch-spinoza Baruch Espinosa

 

A Bíblia deveria ser analisada sem os pré-conceitos dos teólogos e clérigos, que contaminavam as suas verificações com as suas crenças pessoais. Espinosa concluiu que a Bíblia não é fruto de Revelação, e sim uma obra literária escrita por muitos autores ao longo da história com propósitos políticos. Seus autores e organizadores não seriam profetas, e sim doutores.

 

“Os livros do Antigo Testamento foram escolhidos de entre muitos outros e reunidos e aprovados por um concílio de fariseus (...); os livros do Novo Testamento foram também admitidos no cânon por decretos de vários concílios, nos quais se rejeitaram como espúrios alguns outros que muita gente tinha por sagrados. Ora, entre os participantes desses concílios (tanto dos fariseus como dos cristãos) não havia profetas, mas só peritos e doutores (…)

Os apóstolos (...) não escreveram na qualidade de profetas mas de doutores e escolheram o método que consideraram mais fácil para os discípulos a quem queriam ensinar (...) (TTP, XII, 280-281)”

 

É lógico que este tipo de proposta deixou a Igreja de cabelo em pé, classificando o livro como “nocivo, maldoso e blasfemo”. Em 1674 o Tratado foi proibido pela Corte da Holanda, mas o estrago já estava feito. A partir de então iniciou-se um movimento de estudos bíblicos laicos, tirando o monopólio da Bíblia das mãos dos exegetas religiosos. Com base no método de Espinosa, procurou-se encontrar aquilo que ela continha como verdade e ficção, apoiado no contexto histórico em que foi escrito. Espinosa e seu método histórico-crítico representam a primeira onda que rebentou nos contrafortes da Igreja Católica, abalando a primazia da doutrina religiosa.

 

[continua…]

 

Fonte:

http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/e00010.htm

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